quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Carta de despedida

Aconselharam-me a escrever-te uma carta de despedida, e eu achei uma ideia estranha, mas percebi, que para ficar bem comigo mesma, isto teria que ser feito... então cá vai!

Houve alguém que disse que "morremos um pouco de cada vez que perdemos um ente querido" e eu estou a aperceber-me disso agora.
Está quase a fazer um mês que partiste e parece que ainda foi ontem que estiveste cá em casa, alegre, a falar com a minha avó sobre quando eras pequenino, basicamente a recordar... a tua conversa de homem feito fez-me ter um orgulho inexplicável em ti.
Lembro-me de teres dito que agora que tens carro passavas a vir cá mais vezes e pelas piores razões não conseguiste cumprir essa promessa, lembro-me de falares com o meu pai sobre futebol e de tu e o teu irmão terem "discutido" com o meu pai que o Sporting é melhor que o Benfica.
Quando começámos a falar de Londres e do meu sonho de lá ir, disseste que um dia me levarias lá e dói tanto saber que esse dia nunca chegará, que nunca irei a Londres contigo.

No dia em que partiste, foi o meu primeiro dia de aulas e eu estava super feliz, afinal estou numa escola nova com pessoas novas, e quando cheguei a casa fui pintar as unhas. Queria ter ido ter contigo e com o teu irmão, mas fui à janela do quarto e consegui ver-vos a jogar futebol, então achei melhor não ir chatear-vos. Se eu soubesse que aquela seria a ultima vez que te iria ver, nem pensava duas vezes em lá ir!
Quando fui jantar, disse aos meus pais e aos meus avós que tinha ouvido imensas ambulâncias e policia a irem para o lado da vossa quinta, até pensei que pudessem ter sido assaltados, mas quando fui novamente à janela, vi que a luz da ambulância estava ao pé da tua casa e não ao pé da casa principal... Pensei em ir lá, pensei em ligar ao "tio", pensei em mandar-te uma mensagem... em vez disso fui encomendar café porque pensava que não era nada, talvez tenha sido alguma espécie de instinto.
A minha mãe estava a ligar para a minha tia, quando liga uma vizinha nossa para o 91 da minha mãe... "Não digas nada nem à Carolina, nem à tua mãe, mas o D morreu..." "O quê? Mas morreu como? Bolas, vai brincar com outras coisas!" "Ele estava a jogar à bola com irmão e quando estava perto da hora do jantar, foram tomar banho, o D para casa dele e o irmão para a casa principal. O jantar era às 20h30 e ele não aparecia e raramente se atrasava... Então foram lá ver o que se passava."
Quando a minha mãe me disse a minha primeira reacção foi algo que não consigo explicar... era revolta, tristeza, raiva, saudade... Só me apetecia chorar, e foi o que fiz... Durante 10 dias consecutivos não parei de chorar

Não consigo perceber o porquê da tua morte e não quero, sinceramente, prefiro pensar que foste estudar para a Alemanha. É isso, estás a estudar na Alemanha e mais cedo ou mais tarde vais aparecer aqui em casa, abraçar a minha avó e perguntar porque é que eu não tenho as unhas pintadas...

Mas eu quero enganar quem?!? Sei que, infelizmente, isso não é verdade e que não nos vamos ver... 
Eras tão jovem, 20 anos, ninguém devia morrer tão cedo, nem mesmo a pior pessoa do mundo! Tinhas sonhos, tinhas namorada, estavas num curso que adoravas... Porquê? Porquê??

Sei que, estejas onde estiver, vais ver o teu irmão crescer e ser bem sucedido, vais ouvir a primeira palavra do teu sobrinho e vais fazer com que a tua irmã, o teu irmão, e os teus pais consigam superar a tua partida...

Quero que saibas que eu nunca me vou esquecer de ti, nem do teu cabelo loiro, nem do teu sorriso.
E isto não é um adeus, é um até já!

Descansa em Paz!

Com muitas saudades,

Carolina