quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Autobiografia

Não era muito tarde, passavam apenas quarenta minutos das oito da manhã do dia quatro de Julho de mil novecentos e noventa e seis, em que chorava uma criança acabada de vir ao mundo dos humanos, essa criança era eu. A única coisa que nunca percebi foi se aqueles gritos de choro eram sinal de felicidade ou de angústia ou talvez seriam do impacto que temos ao saírmos da aconchegada barriga da nossa mãe, pelo menos é o que todos dizem, que é normal em todos os bebés...
Acreditava nisso enquanto ainda era uma criança e limitava-me a acreditar no que as pessoas mais velhas dizia, pois eram sábias da vida, agora que cresci e que conheço cada vez mais o mundo real, começo a acreditar que aqueles gritos eram sinal de uma criança a tentar dizer que preferia ter ficado no "outro" mundo, no mundo em que as coisas más não acontecem.
Deram-me o nome de Ana Carolina e quantas vezes dei por mim a perguntar o porquê daquele nome e não outro. A única coisa que a minha mãe me dizia era que o meu nome era um nome muito bonito e que tinha tudo a ver comigo, então aí questionava-me o porquê de darmos um nome as coisas, foi então que percebi que tudo tinha de ter uma designação para que as pudéssemos distinguir.
Não demorou muito a que eu corresse ao encontro das minhas bonecas e pusesse um nome a todas. Imaginava ser uma mãe cuidadosa e que aqueles lindos objectos de plástico com cara de criança fossem os meus filhos. Outras vezes imaginava-me uma adolescente com uma grande vida académica, a viver no mundo da lua. Imaginava o momento de ter um namorado para que pudesse largar todos os meus bonecos que nem uma palavra bonita diziam.
Imaginava-me uma rapariga alta, morena com uns cabelos compridos e lisos e aqui estou eu.
Passados tantos anos muitas coisas mudaram, não só a idade que acresce de ano para ano, não só a minha imagem que vai retratando cada momento da minha vida mas também os meus sonhos.
Neste momento da minha vida, quase que posso ver os meus verdadeiros sonhos, mas por vezes existe uma voz dentro da minha cabeça que diz que nunca vou conseguir alcançá-los. Então, as lutas que eu estou a enfrentar são as imensas oportunidades que eu estou a ter, às vezes conseguem-me "deitar a baixo" mas eu não desisto! Eu posso até não saber e não perceber mas estes são os momentos que eu mais me vou lembrar e neste momento tenho é de continuar a ser forte e todos os meus impulsos serão capazes de "abafar" aquela voz que me desmente.
Ao longo da minha vida fui capaz de perceber quais as pessoas que realmente fazem parte dela, todas juntas fizemos uma espécie de corrente como forma de união, em que umas dessas pessoas me acompanharão até à morte, outras vão-se desunindo e então seguindo as suas vidas para lados opostos.
A minha vida de adolescente é inconstante, uns dias feliz outros nem tanto, um dia quero tudo outros dias compreendo que aquilo que tenho é suficiente para eu ser minimamente feliz. Um dia sinto amor, outro dia sinto ódio, tanto me sinto útil como me apetece desaparecer.
Daqui a alguns anos talvez me descreva de maneira diferente, talvez seja uma mulher formada e construída, talvez tenha tornado todas as minhas bonecas em crianças reais, em vez de ter uma casa de bonecas tenha a minha própria casa ou então, daqui a muitos e muitos anos esteja a ler esta história da minha vida aos meus netos.
Só não conseguirei contar como será a minha morte mas eu prometo que na minha próxima vida, eu regressarei talvez no corpo de outro bebé, para relatar tudo, desde os choros de uma criança a nascer aos sorrisos de um idoso a morrer.
A seu tempo todos nós encontramos o que procurávamos mesmo que isso estivesse à nossa frente desde o início.

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